De acordo com pesquisas recentes, 76% dos lares brasileiros são mantidos por idosos, sendo eles, os detentores totais ou principais da renda.
Seguindo uma tendência mundial, a população brasileira está cada vez mais velha. Mas, isso não significa que ela tenha perdido poder econômico. De acordo com o Hype 50+, 76% dos lares brasileiros são mantidos por idosos, sendo eles, os detentores totais ou principais da renda.
“A minha aposentadoria, ela não é o bastante pra manter a minha casa, então eu tenho que trabalhar. O pessoal fala, ‘a você é aposentado, trabalha por hobby’. Hobby não, é necessidade mesmo de sobrevivência porque eu tenho a casa e a família e as contas da casa, juntadas, são maiores que a aposentadoria, então eu tenho que fazer uma complementação”, explica o taxista Keller Soares, 70 anos.
Além da necessidade de sobrevivência, o economista Eduardo Matos, explica que essa importância dos idosos para economia está atrelada também a pirâmide etária brasileira, que “está praticamente retangular, não existindo mais o afunilamento de pessoas idosas na ponta e jovens na base”.
“Para a economia, principalmente a sul-mato-grossense, é importante ter essas pessoas ativas porque nós vemos uma carência na mão de obra. Os recentes investimentos maciços que Mato Grosso do Sul recebeu requerem mão de obra e nesse sentido, mão de obra experiente”, complementa.
Os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) 2019 evidenciam esta tendência. 14% da população brasileira tem 60 anos ou mais, enquanto os jovens com idade de 15 a 29 anos, é de 24%. A expectativa é de que em 2030, a quantidade de idosos na sociedade se iguale à de pessoas jovens, e em 2060, o número de idosos seja o dobro do número de jovens.
Ainda de acordo com Matos, os idosos são cada vez mais essenciais para o mercado de trabalho.
“Por um lado, é importante para o mercado de trabalho, porque são pessoas experientes, são pessoas produtivas, que já tem cadenciado o ritmo de trabalho. Por outro, para o lado do consumo global, é importante que essas pessoas tenham uma renda, porque diferente da aposentadoria, a renda pode ter uma variação na remuneração”, diz.
Idosos e o mercado de trabalho
O mercado de trabalho já está se adaptando a essas mudanças. Paulo da Silva, diretor de gente e gestão de uma rede de supermercados em Campo Grande, explica que há um programa específico para a contratação de pessoas com mais de 50 anos.
“Nós iniciamos [esse programa] em 2018 e no último ano intensificou. Atualmente temos 13% do nosso quadro de funcionários com pessoas acima de 50 anos”, pontua. Segundo ele, a ideia não é que os colaboradores envelheçam no emprego, mas que sejam contratados após os 50 anos. “Queremos que eles vejam que o varejo é uma oportunidade não apenas como primeiro emprego, mas também para pessoas com mais de 70 anos”, frisa.
Nelson José Borba, 77 anos, é um desses novos contratados da rede de supermercados. Ele é repositor de mercadorias e acredita que o emprego trouxe autonomia para a sua vida financeira.
“Eu quero fazer uma viagem hoje, vou lá e viajo. Então é importante essa independência financeira, pra que a gente possa fazer o que quer. É importante isso”, pontua.
Antônio Carlos dos Santos, 59 anos, concorda. “Uma coisa engloba a outra. O serviço, a vida e o lazer, tudo junto, se perder um, empaca e já dá falha na engrenagem”, frisa.
Ninho Cheio
Grande parte desta tendência de pessoas com mais de 60 anos no mercado de trabalho também vem atrelada ao fenômeno Ninho Cheio, em que os filhos adultos ainda vivem na casa dos pais e dependem da renda deles para viver.
Em alguns lares brasileiros, é possível identificar até quatro gerações vivendo na mesma casa. De acordo com a pesquisa Hype 50+, de cada 10 brasileiros entre 50 e 54 anos, 5 ainda vivem com os filhos. Já 23% dos brasileiros entre 65 e 74 anos vivem com seus netos.
Por isso, além da importância cultural, como aconselhamento e transmissão de valores, os idosos também têm grande importância financeira. Em grande parte das famílias brasileiras, são os idosos que tomam as decisões de compra. São os mais velhos que custeiam os sonhos de jovens, tanto filhos quanto netos e bisnetos. Dos brasileiros 55+, 28% ajuda financeiramente os filhos e netos, o que às vezes pode pesar na aposentadoria, valendo a pena voltar para o mercado de trabalho.
No Brasil, por exemplo, as pessoas com 50 anos ou mais representam 42% do poder de consumo, e se considerarmos apenas as pessoas com 60 anos ou mais, esse número é de 20%. Em Campo Grande, segundo o Kantar Ibope Media, 24% integram a classe AB, 62,8% estão na classe C e 13,2% estão na classe DE.
Influência no consumo
Outro ponto importante para a economia, é que mais da metade destes idosos são grandes consumidores de mídia. Segundo dados do Kantar Ibope, das pessoas com mais de 60 anos, 67% afirma assistir TV todos os dias em uma semana típica, e 100% afirma ter assistido TV no último mês.
Para este público, 62,3% confiam na TV enquanto meio, e 81% confia na TV para se manter informado. Quanto à rádio, 47,1% afirmam ter escutado no último mês, e sobre internet, 15,5% têm o hábito de ler jornais on-line.